Acabei de saber que hoje é dia mundial do Alzheimer. Uma data que me fez lembrar da minha vó. E sentir uma saudade imensa.
Minha saudade? A da minha vó presente e cheia de vida.
Ela sempre foi uma figura e tanto. Sempre ali, muito forte para mim. Desde que nasci, até meus 18 anos, eu a via quase diariamente. Tenho duas lembranças marcantes dela. Primeiro, a loucura dela por falar alemão. Isso me afastou da língua, pois de criança aquilo me assustava. A outra memória é a dela aceitando meus pedidos e fazendo batatas fritas para mim no café da manhã.
As vezes nem eu acredito, mas minha vó fazia batatas fritas de café da manhã para mim sempre que eu ia dormir na casa dela. Isso significa uma vez por semana. E junto me dava coca-cola. Claro, que era nosso segredo. Até hoje não sei se minha mãe não sabia, ou fingia que não sabia. Dormir na minha vó era uma aventura. Eu vestia as roupas e usava as jóias dela. Ganhava presentes. Dormia na cama com ela. Comia batatas fritas (na casa dos meus pais só havia fritura nas férias). E podia dormir vendo televisão. Com certeza, era o melhor momento da semana. Eu cresci, e alguns dos nossos pensamentos, nossa maneira de ver o mundo afastaram nossos diálogos. Não nosso afeto. Ela era uma alemã típica, mas carinhosa do jeito dela. Nossa convivência continuava quase diária. Minha vó sempre foi uma referência de afeto, carinho e amor.
A vó Edith não teve Alzheimer, mas câncer. A doença dela foi causada pela idade, segundo o diagnóstico na época, mais de 10 anos atrás. So apareceu quando estava metastica, no cérebro. E aí é que entram essas coisas complexas. A metastase da minha avó apresentava as características do Alzheimer: a confusão mental, irritabilidade, a agressividade, as alterações de humor, as falhas na linguagem, e perda de memória recente. Só que tudo isso veio junto, e muito rápido, não em estágios. Ela tinha uma doença, com todas as características da outra, juntas. E não podíamos tratar os sintomas, pois era câncer. Todo o processo foi muito rápido, enquanto ela ainda estava lúcida deixou muito claro que não queria fazer químio, rádio, nem cirurgia. E logo depois foi tudo se misturando até que aquela senhora gorda e forte ficou muito frágil e magrinha. Ela definhou. Nunca soubemos onde ela teve câncer originalmente. Começou com o que parecia um AVC, no dia do aniversário de 83 anos dela. Depois parecia uma paciente de Alzheimer, e então finalmente, nos mostrou a face do câncer. O diagnóstico da metastase veio algum tempo depois da primeira crise dela. O processo todo durou menos de dois anos.
Quando a situação da doença acelerou, tudo ficou um pouco nebuloso para mim. É uma etapa da minha vida em que muitos momentos, muitos diagnósticos, muitas conclusões, deletei. Algumas coisas tento até hoje recuperar. Lembro com clareza da fase das acompanhantes em casa, que ela expulsou. Depois um período na casa da minha mãe e depois hospital, muito desse tempo na CTI. Esses dias, já não tão claros. E lembro de muitas conversas. Lembro de ser confundida com a minha mãe ainda menina, e muitas vezes com a mãe dela. E o que mais lembro, com dor, são as conversas repetidas. Conversas que repetiam os momentos recentes, minhas chegadas na casa da minha mãe. As mesmas perguntas. Lembro de termos por 4 ou 5 vezes o mesmo diálogo. E do sofrimento de quando ela começou a não conseguir falar certas palavras. Queria dizer uma e acabava falando outra. Ela percebia, e sofria. As vezes chorava. Depois se enfurecia. Berrava. Se acalmava. Eu olhava, pegava a mão dela. E tudo recomeçava.
Hoje eu me solidarizo com quem tem alguém amado passando por isso, alguém querido com DA. Não foram anos, no meu caso, nem um processo que se agrava lentamente. Só que acho que consegui vislumbrar um pouco do que é viver pensando em como ser o amanhã. Seremos reconhecidos? Lembrados . Conseguiremos conversar? Eu amava aquela senhorinha. Aproveitei cada momento que pude com ela. Os momentos de lucidez, os momentos em que ela percebeu que estávamos nos empenhando, nos dedicando. E teria aproveitado mais. Queria mais dias em que ela lembrasse que era eu. Por que não tem preço. E vale na lembrança que eu tenho dela, há cada ano que passa, desde lá.
A pimenta é um condimento de sabor picante que pode lembrar o cravo, a canela e a noz-moscada. Utilizada nos alimentos para produzir sensações “quentes”, estimula a produção de endorfina no cérebro, aumentando a sensação de bem estar... Que tipo de pimenta é você?
domingo, setembro 21, 2014
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