Era um bar pequeno, escuro. Não tinha nada em comum com eles. Ele ainda não entendia o motivo de estarem ali. Ela, sofisticada, bonita, sempre bem arrumada. O que queria naquele lugar? Quando ela pediu uma cerveja e a porção de calabresa, ele entendeu menos ainda. Ficaram olhando um para o outro. O olhar era hipnotizante. Isso não mudava. A química entre eles permanecia forte. Continuavam soltando faíscas.
Ele pegou na mão dela, pousada naquela mesa de madeira fuleira. Ela puxou em direção ao próprio corpo. Ele não entendeu, e continuou olhando para ela. Não diziam palavra. Enquanto ela beliscou a calabresa, ele fez novo gesto em direção a mão dela. "Pra que isso? Tu sabes que depois vai sumir. Vai procurar outra. Vai me tratar como se não tivéssemos tido nada. Pra que agir aqui como se eu fosse tão importante?". Ela jurou para si mesma que apenas diria o que tinha a dizer. Não conseguiu.
Ele, que não esperava ser colocado contra a parede, ficou mudo. Analisou cada centímetro do rosto dela. Pensou em cada palavra. Repetiu o discurso: "Eu sempre machuco quem se envolve comigo. Te disse isso lá atrás. Não posso deixar a coisa ficar diferente de como está". Ela gargalhou. Uma gargalhada grossa e forte, misturada às lágrimas. Ele achava que ela acreditaria, novamente, nisso? Ele achava que ela acreditaria que pudesse ser tão racional? A matemática ali era simples: ela nunca gostou dela o suficiente. Permitiu que ela se envolvesse por ser divertido, mas nunca foi homem para assumir que não estava envolvido. Fez esse estilo de homem que não pode se doar pq era mais bonito. Mas ele se doava a tanta gente. Era gentil com todos, menos com ela. Conversava com todos, menos com ela. Respondia a todos, menos a ela. E o mais doloroso, é que tinha sempre um elogio, uma palavra doce para todas, menos para ela. Ele achava que ela não via. Impossível. Estava tudo ali, na cara dela, mesmo que não quisesse. As promessas não cumpridas. O presente que prometeu e que nunca entregou. A dedicatória que não fez. O jantar que foi desmarcado. O final de semana que só aconteceu na idealização. Ela lembrava, claro, mas esta cansada para enumerar. Para explicar para ele como se sentia. Nao tinha mais energia. Nem vontade. Gostar já não resolvia mais.
Escolheu aquele lugar para que não houvesse risco de ser novamente envolvida por ele. Uma mesa dura, uma comida seca, um lugar feio. Ela marcou um lugar em que a sedução dele ficasse acanhada. Um lugar em que ele não se sobressaísse. Onde ela, pela primeira vez, fosse mais forte, mesmo sentindo tanto por ele. Apesar de saber que quase o amava, ela percebeu que o pouco caso dele a libertara. Com dor, mas ainda assim, a libertara. Ela queria ser valorizada. Admirada. Ela queria que o gostar dela fosse bem-vindo. Ela preferia até ser mandada a merda a ser tão ignorada. E com ele, continuaria sendo esse ser morno em que se transformara. Morno e inseguro.
Ela levantou. Pegou a bolsa, virou e saiu. Sabia que não havia mais o que fazer. E que ele a entenderia. Nao faria diferença, aliás. Só que dessa vez, para nenhum dos dois.
A pimenta é um condimento de sabor picante que pode lembrar o cravo, a canela e a noz-moscada. Utilizada nos alimentos para produzir sensações “quentes”, estimula a produção de endorfina no cérebro, aumentando a sensação de bem estar... Que tipo de pimenta é você?
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