segunda-feira, março 31, 2014

sobre a pesquisa do IPEA

Eu pensei em não escrever sobre isso. Não por aqui. E nem em nenhuma rede social. Mas estou comentando alguns posts, e lendo muitos mais. Vendo muitos comentários incompletos. Então, resolvi escrever sobre a pesquisa do IPEA que fala a respeito da violência contra a mulher (sim, estupro é apenas um dos temas). Esclarecendo, eu nunca estudei sobre esse assunto, nem lá na faculdade de Direito. Acompanhei alguns casos muito tristes, durante o estágio na área Crime, e foi o suficiente para minha repulsa absoluta ao tema. Mas eu li a pesquisa quando saiu. E sei que o resultado é muito, muito sério. Assim como sei que ninguém precisa ser estudioso para entender o quão alarmantes são todos os índices desse estudo. Considero que diante desses e do quadro de violência já existente no Brasil algo precisa ser feito. Aliás, tudo o que puder ser feito de concreto.
Só que pelo que eu tenho visto, a primeira medida é saber sobre o que estamos falando. Afinal, como pensar em conscientização, se a maioria das pessoas sequer sabe qual o público a atingir? E honestamente? Eu acredito que o público que respondeu essa pesquisa, na maioria, dificilmente será atingido por aqui, internet. 
Então, me rendo e escrevo. Se 3 ou 4 pessoas lerem o que estou postando, e conseguirem pulverizar um pouco o que realmente está ali, já estamos começando a falar a coisa certa. A campanha que está por aí, vai atingir muita gente, de um perfil bem específico. Mas precisamos mais para que chegue nas senhorinhas e mães e avós e carolas, e esposas que formaram a maioria feminina que respondeu essa pesquisa. Então vamos nos armar com informação. E combater com ela o que está na rua, que é periclitante. Por que não foi só o bandido, ou só o homem que foi analisado no estudo, o rombo é maior.
Pontuando os fatos:
- Esse assunto, polêmico, que tomou conta das redes sociais, com uma campanha chamada " Eu não mereço ser estuprada" começou com o resultado de um estudo realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que acontece todos os anos para avaliar os indicadores de percepção social, e que é feita em lares brasileiros com homens e mulheres sobre políticas públicas. O mote deste ano era a violência contra a mulher.
- Foram visitados mais de 3.800 casas entre maio e junho desse ano, em 212 cidades do Brasil. O mais assustador, é que 66% das pessoas entrevistadas eram mulheres (sim, acreditem!)
- A pesquisa trouxe dados que mostram uma sociedade machista e ainda bastante patriarcal, que tenta culpar a mulher pelo que acontece de violência com ela, e busca o controle do corpo feminino, e mais, uma sociedade em que a mulher ainda é subordinada ao homem. Isso, em um estudo feito na maioria com mulheres. É a realidade da nossa sociedade.
- Na pesquisa, 65% dos entrevistados acreditam que a roupa usada pelas mulheres pode induzir, provocar, originar um estupro. É a "existência da cultura do estupro" no país, segundo os pesquisadores. Na mesma linha de pensamento, 58% dos pesquisados creem que se a mulher soubesse se comportar, o número de estupros seria menor.
- Ainda apresentando outros  números chocantes, 63% dos analisados acreditam que a violência doméstica contra a mulher deve ser debatida apenas dentro de casa, pelos membros da família. Num total, 91% dos ouvidos, concordam com a prisão de maridos violentos, mas apresentam discursos divergentes ao longo da respostas posteriores. São números bastante alarmantes!
- Pode-se afirmar que os jovens e as regiões Sul e Sudeste apresentam menores chances de culpabilidade do comportamento feminino na violência. O mesmo parece ocorrer nas metrópoles mais ricas e com níveis educacionais mais elevados.
- A pesquisa também revelou o incomodo de brasileiros em altos índices de 59% no que trata das relações homoafetivas.
- Abaixo quadro com alguns resultados:



terça-feira, março 25, 2014

Nostalgica

Porque em alguns dias eu sinto uma saudade imensa daquilo que não vivi. Daquela vida que nem imaginei possível. Daquele tempo que não pensei que poderia ter.  Daqueles sonhos que não tive. Das pessoas que não conheci.
Porque em alguns dias eu sinto uma saudade absurda de quem eu não conheci. Dos cheiros que não senti. E dos tantos abraços que deixei de dar. Das conversas e risadas que sei que não conseguirei compartilhar com quem não fez parte da minha vida.
Nesses dias, quando a nostalgia incompreendida, toma conta de mim. Quando a solidão, até boa, vem me visitar, nesses dias eu deixo essa saudade me invadir por inteiro. Porque não ha dor que não tenha fim. Não há solidão que não volte pro esconderijo.
Porque sempre há um sorriso pela manha.
Tem coisas com as quais a gente se acostuma e nem sabe como, ou porque. Viram hábito, passam a fazer parte do nosso dia-a-dia. Pequenos textos, leituras, conversas. Situações tão envolventes, tão bem colocadas,  que nos deixam com um gosto de quero mais.

Tem coisas com as quais a gente se acostuma e nem sabe como, ou porque. Viram hábito, e quando a gente não tem mais, percebe a falta que fazem. Quando elas deixam de fazer parte do nosso cotidiano, do nosso dia-a-dia deixam um vazio. E por mais que busquemos outras coisas para colocar no seu lugar, não conseguimos dar a mesma risada, ou pensar com a mesma profundidade.

É, tem coisas com as quais a gente se acostuma, e nem sabe bem como, ou porque. E que nos fazem falta, bastante falta quando terminam. Mesmo que nunca tenhamos imaginado que fariam. Porque mais do que um hábito, viram um gosto.  Sim, passamos a gostar delas.

sexta-feira, março 21, 2014

Entre a carne e o osso

Enquanto uma comentava que tinha abandonado a dieta, eu olhava. Apenas mulheres bonitas, e magras, estavam sentadas na minha mesa. Não que eu seja um tipo 100% seca. Claro que já passo longe das medidas de passarela há alguns anos, e desde de os 24 tenho algum culotezinho e celulite. Mas no cálculo padrão ainda tenho bons 13kg a menos que a altura (na desejada proporção altura - peso, em que 17 e a faixa das modelos) algo bom para o biótipo brasileiro. Não tenho de que reclamar. E sim, me alimento bem.
Então, estar em uma mesa com mulheres com o mesmo padrão, ou mais magras, tendo esse tipo de debate... me choca. Que tipo de beleza buscamos? O quanto estamos insatisfeitas?O que falta para a mulher de hoje perceber o quanto e bonita, o quanto já conquistou, o quanto pode se desprender de certos estereótipos e padrões?
O assunto prosseguiu. "Sim, porque para fazer dieta e preciso ser radical, eu não vou a eventos. Impossível sair e não comer um docinho. E um doce corta o regime." Disse uma, ainda mais bonita. A outra responde que vai a eventos e toma sucos. Uma outra diz que dá um jeito, e radicaliza sim, mas não se tranca em casa. Apenas corta o álcool, doce e gordura. Tudo? Pensei alto. Uma comia doces e dizia ; "amanhã compenso".  Enquanto isso eu ouvia. E tentava entender de onde surgiu esse padrão de exigência. Pais cobrando demais na infância? Maridos e namorados comparando com a televisão? Ou nos mesmas, mulheres, perdendo a noção de que ser feliz e tão mais simples?
Eu me sentia em um mundo paralelo. Será que sou a ultima mortal que acha que buscar um pouco mais de alegria e prazer, ter saúde e não, necessariamente, virar escravo, pode ser melhor? Pode ser mais divertido?
Decidi me libertar daquele momento. O dia foi difícil. A semana vem sendo pesada. O assunto me entristece um pouco.
Apertei a tecla mute. Liguei o som ambiente. Busquei um doce. Porque, definitivamente? Eu ainda prefiro continuar assim, bem do meu jeito. Deixa que me olhem surpresas, enquanto como feliz e sem culpa. E, se for o caso, que me vejam um pouco fora desse padrão esquálida, que sei lá quem inventou. Essa vida ainda se vive só uma vez. E eu vim ao mundo ser feliz. Em tempo, ninguém me disse que virando osso, chegaria mais rápido ao nirvana.

segunda-feira, março 17, 2014

uma lente ocular, e nada mais

Então, o tempo passa. E começamos a ver as coisas com mais nitidez. Como uma lente desfocada, procurando uma imagem certa para se posicionar, até achar o momento certo de captar a imagem.

Aos poucos, percebemos as pequenas bobagens, as tolices, os comportamentos intempestivos, já não tem valor. De certa maneira, aos poucos notamos como tendemos a nos apegar a tolices. Sim, o tempo. Ele nos faz perceber o quanto somos pequenos em algumas situações. O quanto podemos ser bobos. O tempo nos faz perceber a nossa insignificância. E também, a nossa importância.

E a clareza com que identificamos as coisas. Ah... essa só o tempo pode trazer. Não que com ela deixemos de errar. De falar o indevido. De nos exaltar. De ficar sensíveis na TPM, ou de brigarmos quando alguém para na frente da tela, bem na hora do gol. Essas pequenas coisas o tempo não transforma. Nada muda a delicadeza das pequenas incomodações diárias. Mas a nitidez de como a vida pode ser pequena se não soubermos perdoar, entender, relevar, isso só esse senhor nos faz assimilar. E ele faz isso com maestria.

Se hoje, ainda nos perdemos em pensamentos tolos, amanhã eles terão mais lucidez. Se hoje somos tomados por impulsos, amanhã a calmaria nos presentará com um pouco da sua presença. Se hoje temos excesso de atitude, amanhã a moderação virá bater um papo conosco. O tempo é o melhor amigo de uma vida equilibrada. Tempo, e vida. Lições que nos permitimos ter a cada dia, e permitimos que nos guiem, nos contem seus segredos, nos confessem seus pecados.
Então, só assim a medida em que o tempo passa, as imagens ganham foco. E luz. E cor. E sim, muito mais nitidez em tudo o que acontece.

domingo, março 16, 2014

por que assim é a vida...

Somos o que somos. Uma mistura daquilo que nos ensinaram em casa, daquilo que nossos pares dividiam conosco na escola, daquilo que fomos avidamente assimilando ao longo da vida. E somos todas as nossas experiências.
Quando jovens, somos tão flexíveis, tão resilientes, tão brandos. Tão facilmente adaptáveis a situações e medos. E o tempo passa, e as situações, os medos ficam mais pungentes, mais fortes, mais impactantes. Começam a desenhar um pouco mais do que seremos quando adultos. Formam nossa personalidade. Formam nossas reações. Formam nosso instinto de defesa.
E assim, é. As vezes, sem querer, em um belo dia aquilo o que nos aconteceu lá atrás bate, e nem nos damos conta. Reagimos sem perceber. Respondemos, julgamos, condenamos. Somos precipitados. Fechamos a porta para alguém que poderia ser bem legal. De repente, a nossa formação ou uma série de coisas que aconteceu na nossa vida faz um momento se perder, uma pessoa ir embora. E ficamos ali, pensando onde foram parar os anos de terapia. Onde foi toda a elaboração de um assunto que já estava tão resolvido.
E nos damos conta, que certas coisas reaparecem na nossa vida quando a gente menos imagina. Quando a gente menos precisa delas. Quando, aliás, a gente nem lembra que elas existem. E aparecem, só para nos sacanear.

sexta-feira, março 14, 2014

Hilda Hist para a sexta-feira

Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.


(obrigada Ana Pree)

quinta-feira, março 13, 2014

Meu castelo de livros

Observo a infância das crianças. hoje, e fica impossível não pensar na minha. Um misto de nostalgia e apego me invade quando penso nos bons tempos da Rua Mostardeiro. Ainda mais saudade, se penso no tempo em que vivi pelos corredores, recheados de livros, das lojas da minha família. Bons tempos aqueles. Sim, brinquei na rua, muito. Tive amigos no prédio, tive colegas de colégio, tive uma irmã companheira. Tive avós que moravam no interior, e com isso, aproveitei tudo o que a vida no campo pode oferecer. Mas mais do que tudo isso, tive uma vida envolvida por livros.
Nasci dentro de uma livraria e cercada por adoradores de livros. E com isso, muito pequena, criei o gosto (e apego) por suas páginas. Fossem os deliciosos livros infantis ou os inacessíveis livros adultos, todos me encantavam. O que os livros me ofereciam, me atraía ainda mais. Eu era bem menina e já tinha minha amiga literária. Ela era mais velha que eu, e eu a achava (acho até hoje) o máximo. Uma ruiva bonita e paciente, que chegava à minha casa e tinha disponibilidade para ler lindos trechos dos livros enormes e mais pesados para mim. E tinha minha mãe, lendo todas as noites antes do sono me abraçar. E minha avó, que me deixava solta no meio de uma sala lotada de livros por todos os lados. E tinha uma parede na minha casa, com livros do chão ao teto, que eu adorava olhar, enquanto observava meu pai tirando ou recolocando algum título.
Enquanto meus amigos tinham pais doutores, eu tinha pais empresários. Empresários em um setor pouco usual, estranho para crianças: o de livros. E eu adorava passar a tarde com eles. Ou melhor, sem eles. Passeando entre os corredores, tão seguros, de livros. Correndo entre pilhas e caixas que precisavam ser etiquetadas e limpas. Eu amava o cheiro daqueles livros. Suas cores e texturas. Amava folhear, mesmo sem entender. Era muito melhor do que brincar de bonecas. Sem falar, que sempre tive um amigo, vendedor, interessado em me mostrar novidades, em me contar alguma coisa sobre um daqueles tesouros de papel. Eu me sentia em um paraíso ali.
Estive com Jorge Amado, Mario Quintana, Fernando Sabino quando nem sabia quem eram. E isso nem me importava, pois eu ficava borboleteando ao redor deles, sem que se incomodassem. Ver pessoas formando filas para receber um  autógrafo só fazia com que os livros se tornassem ainda mais espetaculares e grandiosos para mim.
Graças aos livros, minhas notas de português (ok, hoje já não tenho mais aquele português, eu sei) e literatura, no colégio, eram uma maravilha, e meu vestibular foi tirado de letra. História era excelente, por tabela. Nunca foi um problema estudar matérias que exigissem horas de leitura. Graças aos livros, descobri mundos que muita gente da minha idade desconhecia. Graças aos livros, tive acesso cedo a um lado da vida que me acompanha até hoje: a facilidade para falar em público (ainda menina fiz parte de um conselho literário infantil, e palestrei várias vezes sobre a participação neste conselho).  Graças aos livros, sou muito de quem sou.
Talvez por isso, por essa minha infância, eu fique tão feliz quando veja a paixão de uma criança por livros. Fique tão encantada quando veja escritores mirins. Me delicie tanto ao ver que não é a regra, mas que sim, ainda existem muitos pais que preferem a leitura, à televisão. Existe um universo todo maravilhoso por trás dos livros. E ele é infinito.

E que ninguém se surpreenda, ao ver que ainda prefiro o bom e velho livro, ao kindle ou ipad. Cheiro, toque, gosto. Sim, porque livros têm gosto também!

quarta-feira, março 12, 2014

a vida, diferente do livro

Uma amiga minha, querida, linda, competente (e mil outras coisas que eu poderia citar aqui) escreveu um livro deliciosamente instigante. O livro, fininho e gostoso de ler, intitulado "A Condição Indestrutível de Ter Sido" fala sobre um casal formado (ou "desformado", na verdade) na era dos relacionamentos digitais. Eu li, reli e treli a Condição. Primeiro porque o livro é ótimo e bem escrito. Segundo porque Helena é minha amiga, e eu queria dar uma opinião sincera sobre o assunto. E terceiro, porque eu tenho pouca experiência em relações digitais. E fiquei muito curiosa sobre algumas coisas que ali apareciam.
O livro me fez pensar. E algumas coisas que aconteceram nos últimos meses, me fizeram pensar ainda mais sobre o que ela escreveu. Concluí, que definitivamente, não sou uma mulher para relacionamentos em tempos de redes sociais. Claro, já namorei à distância, o que exige o uso constante de smartphones, notes,  telas, e tudo mais.... Já tive envolvimentos com pessoas morando em outras cidades, quiçá, países. Mas se comunicar e se envolver com alguém que esta longe e usar a ferramenta digital para contato é uma coisa... ter um envolvimento com um Mauro, o personagem escrito pela minha amiga? Isso não me pertence.
Tenho no máximo 4 amigos que não conheço pessoalmente, em uma das minhas redes. Em outra, sigo e sou seguida por pencas de desconhecidos, mas é o intuito de quem está ali, então, ok.
Recentemente, um dos 4 desconhecidos virou conhecido. Acho até que vai virar parceiro de futebol, e já me trouxe, a tiracolo, mais um amigo junto. Diminuiu a lista.
Outro desconhecido, alguém que eu gostaria imensamente de conhecer no mundo real, ficará sempre atrás da tela. Provavelmente, com o tempo, em algumas das minhas limpas acabará sendo excluído da relação de amigos e diminuindo a lista também. . Acabo sendo meio antiga para isso, por mais que entenda o sentido das redes sociais, me abstraio um pouco deles.
Os outros dois, até hoje não sei como vieram parar na minha página. Provavelmente uma digitação errada na hora de negar o convite. E, da mesma forma, em breve estarão fora. Mas enquanto estão cheios de restrições e ativações de privacidade, não me incomodam.
Com isso, continuo sem chances de conhecer alguém parecido com o personagem principal de a Condição Indestrutível. Usando as redes sociais a minha maneira, e me sentindo um pouco velha e obsoleta com isso, é verdade. E me perguntando, também, mas e por que eu mudaria? Deixa o romance, que acaba não dando certo mesmo, para um bom livro. E quanto aos amigos? Bom, esses eu prefiro na mesa do bar.

segunda-feira, março 10, 2014

e quanto mais eu penso, mais certeza não tenho....

Em Quadrilha, o poeta Carlos Drummond de Andrade já ditava:

"João amava Teresa que amava Raimundo 
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 
que não amava ninguém. 
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história."

Quanto mais penso sobre esse poema, mais mais certeza tenho de que, mesmo sendo clichê (e até piegas) o famoso dito, baseado no poema, é uma grande verdade da vida. Uma verdade que se concretiza a medida em que o tempo passa; A medida em ficamos mais seletivos, mais exigentes e mais chatos (duro aceitar, mas sim, a idade também nos deixa mais chatos em muitas coisas). E até mais duros em nossas cascas (aquelas criadas pela vida).

Com o tempo, fica mais difícil abrir mão dos livros, dos discos, dos filmes. Da casa no campo. Do gato, do cachorro, do papagaio, também. Com o tempo, gosto cada vez mais de homens que lêem, falam de assuntos interessantes, e impõe, um pouco, seu jeito de ser. Com o tempo, me sinto mais  atraída pelo pensar do que pelo aparentar. Mas, também com o tempo, é difícil se adequar a esses homens, pois já não sou mais resiliente como o bambu, ou absorvente como a esponja, muito menos silenciosa como uma monja. E então, não necessariamente, sou o par perfeito para tipões assim. Interessante? Claro que me acham. Fácil de conviver? Nem tanto. E aí, meu João, sempre terá mais facilidade de amar uma Teresa ou uma Maria, do que a mim, Fernanda.

Realidade da vida, que torna cada vez mais atual, o poeminha do doce Drummond. Que eu continue tia, que eu vá aos EUA, ou que até conheça um sujeito que nunca acreditei poder fazer parte da história. Mas que me livre dos desastres. Ao menos isso! 

domingo, março 09, 2014

querendo não querer

Com o tempo a gente aprende,  a duras penas, que não deve esperar nada de pessoas, situações e coisas. A verdadeira responsável pelas nossas frustrações é  a expectativa que criamos.  Verdade.  Mas é tão difícil limar essa expectativa da vida da gente.  Tão complicado aceitar que a medida em que ficamos mais velhos,  mais maduros, mais doídos, devemos nos distanciar do frio na barriga.  Devemos endurecer.  Devemos deixar de acreditar no que nos dizem, bancando São Judas para tudo. Tão triste perder o romantismo.

Talvez eu seja ingênua.  Talvez, tenha um lado crente em mim que insiste em aparecer de tempos em tempos. Mas ainda acredito que pessoas imperfeitas podem se encontrar, sendo perfeitas uma para a outra. Ainda acredito em recomeços ou reencontros e em encontros inusitados. E acredito que só somos solitários,  se buscamos a solidão em nós mesmos. Eu acredito em pessoas do bem, sim.

E acredito, especialmente, que não devemos jogar nossas palavras ao ar, muito menos brincar com outras pessoas.  Sentimentos são construídos por palavras,  e podemos magoar alguém com muito pouco.

Talvez, por ser assim, eu ainda me decepcione com as pessoas. Talvez, mesmo sem motivos, espere que os outros sejam como eu.  Talvez, por isso também,  mesmo parecendo loucura,  eu ainda deseje conhecer pessoas que tenham expectativas. Que aceitem o frio na barriga.

E provavelmente por isso, eu ainda seja tao molenga, por trás dessa carcaça durona.

Bandaid, por favor

Você acha que encontrou alguém incrível. Diferenciado. Maduro. Aberto. E essa pessoa é tudo isso, e ainda é espetacular com você. Você baix...