Eu, que estou, seguidamente, com um livro na mão, versando
sobre a situação das mulheres, em países de regime muçulmano, esperava
encontrar um filme que apontasse apenas esses temas. E que se desenrolasse em cenários
que normalmente ocupam as páginas destes livros: riqueza em casas suntuosas,
onde apesar do luxo, mulheres ainda precisam se submeter ao que prega o Corão;
ou regiões dominadas pela pobreza, com fugas, tristezas e dramas que emocionam
até os mais duros corações.
Não foi nada disso que encontrei, em A Separação.
O filme retrata a
situação de uma família de classe média, onde valem sim, os preceitos do Corão.
Em algumas situações, modernizados, em outras, nem tanto. Ainda há choque, revolta, tristeza. E há um
olhar de esperança e indagação (ou seria de resignação?). Os olhos, da filha do
casal que se separa, são a grande janela para a alma dos personagens. O olhar
da menina traduz covardia, orgulho, medo, crença, amor, incerteza. Traduz o
desenrolar de tudo o que vemos. Os sentimentos ditos, e os escondidos. E ela usa,
para isso, uma sutileza escancarada.
A maior surpresa para mim? É que partir desse olhar de
adolescente, com tudo para viver, somado a presença de um idoso, que já não tem
mais esperanças, e ao surgimento de situações imprevisíveis, temos o sumo do
filme. Sua essência. Como o imprevisível pode afetar nossa vida? O que o acaso,
e a ordem dos acontecimentos podem ter, resultar? Enquanto se desenrola o filme,
pode-se perceber que eventuais mudanças, atos diferentes, ações que, talvez,
não tivessem sido feitas como foram, mudariam todo o resultado do que temos na
tela. Afinal, não é assim nossa vida? Um roteiro que cresce, ganha ainda mais
vida, junto às emoções de um sistema religioso que nos é tão distante. E o que
virá depois? Qual a consequência disso? E isso é o mais envolvente nessa
estória! Me senti tão longe, e ao mesmo tempo tão perto do que se passava na
minha frente.
Vendo os letreiros finais, ainda me perguntava o que eu
realmente queria que acontecesse no filme. E o que, efetivamente, acreditaria
acontecer, se a narrativa fosse baseada em fatos reais. Seria possível, um final feliz?
2 comentários:
Fiquei com vontade de ver !
Beijoss
Vai assistir, Bípede! E depois me conta o que achou. :)
Bj
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