Na minha época de adolescente, as paixões platônicas eram normais.
Saudáveis. Interessantes.
Nos apaixonávamos por um menino de outra classe, outra
escola, ou do curso de inglês. Mas
éramos jovens demais, imaturas demais, ingênuas demais, para tomarmos
qualquer iniciativa de contato. A educação, totalmente controlada, nos dizia
que meninas podiam e deviam ter determinados comportamentos, meninos outros. O
frio na barriga era uma constante. A incerteza, um companheiro fiel. Nunca tínhamos
a idéia de se o alvo de nossa paixão,
estaria na reunião dançante dos colegas, ou na festinha do clube. Qualquer
encontro era motivo de euforia.
O tempo passou. Adolescentes, hoje, agem como adultos. Ou
pior, porque eu, adulta, nunca agi como tantos destes jovens que vejo por aí.
Não sei se a repressão de minha geração, a necessidade de fugir, e driblar, os
pais era a melhor forma de viver. Não sei se era correta, ou se formou uma
geração mentalmente sadia, apesar de me considerar uma pessoa sã. Mas essa
geração que vejo hoje nas ruas, essa deturpação de valores, essa liberação e
desregramento, sinceramente, me assusta.
Meninos e meninas,
que descobriram muito mais da vida do que eu, mulher feita, adulta. Meninos que
não sabem o que fazer com o tanto que já se permitiram. Meninos que já
experimentaram tudo, e não sabem mais para onde ir.
Será que minha mãe pensava assim de nós?
Eu me considero uma pessoa open mind, jovem, e desencanada.
Acho que fui tão reprimida que, assim que pude, me libertei das minhas correias
e grades, para entender o que era ser livre. Não tenho preconceitos, nem
preceitos. Acredito que as pessoas busquem seus caminhos, e eles não devem, nem
irão, me dizer respeito. Não julgo, ou tento não julgar. Mas, ainda assim, me
vejo olhando essa nova geração, preocupada.
Sinto que crianças, jovens, adolescentes, estão sendo
entregues a vida adulta, cada vez mais, sem preparo. Sem chances de discernir a
razão de suas escolhas.
Eu acho que meu medo é relevante. E justificável. Mas... Talvez
eu fale, e pense, como minha mãe o fez um dia.... E se a vida é cíclica, como
poderia ser diferente?