Desde o meu mais recente relacionamento (não sei se pode ser chamado assim) tenho pensado sobre o que acontece, afetivamente, com as pessoas nesses tempos de amores líquidos.
Eu gosto de conhecer os homens com quem saio. Gosto de me envolver. Tenho um lado romântica e apesar de independente e de ter temperamento forte, sou muito carinhosa (uma pessoa querida dizia que eu faço carinhos infinitos). Eu adoro cuidar (e ser cuidada, sim). Sem julgamento do mérito, não entendo bem essas relações de aplicativos. Não curto "one night stands". E muito menos tenho facilidade pra entender pq as pessoas passaram a ter tanto medo de conhecer o outro. Se você sai com uma pessoa várias vezes e vê algo que gosta nela, vale a pena se aprofundar. Em alguma oportunidade viu o lado ruim? Sim, faz parte, ninguém faz so o que gosta na vida. Um relacionamento casual com intimidade é sempre mais gostoso do que uma única noite vazia. Isso é como eu sinto, claro.
So que o que tenho visto, cada vez mais, são pessoas se preocupando muito mais em rotular (ou fugir dos rótulos) do que em permitirem se conhecer. Quando os relacionamentos ou envolvimentos atingem um nível em que é preciso olhar para o outro e se mostrar, até inconscientemente, um dos dois se boicota. Começa a ter atitudes imaturas. Começa a agir de maneira a causar insegurança ao outro, provocar a indiferença em si próprio, começa a afastar e se afastar. A relação pode ter intimidade emocional? Então um dos dois visivelmente sente medo. Fragilidade, falta de estrutura afetiva, ou simplesmente despreparo para coincidir discurso com atitude. A verdade é que é muito diferente dizer que "quer estar com alguém legal" do que agir para isso. Se vitimizar é mais fácil do que se empenhar.
Em tempos de amores líquidos, por mais que ambos os lados queiram ter uma companhia legal, raramente ambos os lados estão preparados para isso. Em tempos de amores líquidos, por mais que ambos os lados queiram se afastar da solidão, dificilmente os dois se permitem mostrar quem são. Em tempos de amores líquidos, por mais que ambos os lados discursem dizendo estarem cansados de superficialidade, um dos dois sempre preferirá a facilidade do aplicativo, ao risco de se expor verdadeiramente.
Em tempos de amores liquidos, lamento por tantas pessoas incríveis separadas, por medo, não por incompatibilidade.
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