Teus olhos me despem, como brisa. Brincam com meus ombros, tentam desvendá-los, quase desajeitadamente. Olham serenamente, com lentidão, como se me carregassem de leve. E piscam para mim, enigmaticamente, me intimidam sem demonstrar se querem me tratar como vento ou mormaço;
Teus olhos me despem, como chuva de verão. Beijam meu corpo,
refrescam minha mente, arrepiam todos os cantos dos meus pensamentos. Olham
displicentemente, como se pudessem levar cada suspiro meu em suas nuvens
passageiras. E sorriem para mim, antes de se turvarem, subitamente, tal como
acontece com as poças d´água;
Teus olhos me despem, como raios de sol. Cobrem minha pele com
cor de alegria, e meus sentidos com prazer do aconchego. Olham com calor, iluminam o que vejo e sinto,
deixam tudo mais bonito. E me cegam, tiram meu chão sem mais nem menos, como acontece com
quem olha o sol, sem filtro, direto na retina.
Teus olhos me despem, e me impedem de identificar se meus
olhos também te despem. Teus olhos me despem, e me impedem de te ver como és, realmente.
Teus olhos me despem, e me pregam peças sobre meus sentimentos. E quanto mais teus olhos me despem, mais
quero descobrir, quando meus olhos vão, realmente, despir os teus. Teus olhos
me despem, só, por enquanto...